Artigos - Postado em: 06/06/2023

Porque o Chat GPT não irá tomar o seu emprego (se você for um bom advogado)

O tema da moda em todas as áreas (e no direito não é diferente) é a massificação das ferramentas de inteligência artificial e o uso do ChatGPT na advocacia. 

Há os otimistas que ressaltam o quanto a ferramenta revoluciona o nosso modo de pensar e agir e, especialmente, de fazer pesquisa. Ter informações precisas em um clique, criar conexões entre argumentos e analisar dados e conteúdos a partir de um simples comando é a revolução definitiva da informação colocando a atividade jurídica (e todas as outras) em um patamar que até então soava como ficção científica. 

Sem dúvida, há também aqueles que têm uma visão mais pessimista ou mesmo fatalista e questionam os perigos e riscos do uso massivo da ferramenta, os impactos nas relações de trabalho e na redução da quantidade de posições disponíveis. 

Aparentemente todo mundo tem um pouco de razão e o que não dá para questionar é que a inteligência artificial já é realidade, não há como impedir sua evolução: o futuro da advocacia precisa necessariamente considerar esta tão poderosa ferramenta. 

Refletindo sobre o tema o que me vem à cabeça é que o ChatGpt sem dúvida vai transformar a advocacia mas nem de longe retirar o posto dos advogados humanos, pelo menos daqueles que conseguirem se desenvolver e adaptar às evoluções do mercado e das relações humanas. 

No meu ponto de vista definitivamente há atribuições/habilidades dos advogados que as ferramentas de IA não conseguem atender, especialmente: 

  1. A criatividade: a IA trabalha com o que já existe. A criação de soluções inovadoras para os problemas complexos que surgem diariamente em um mundo que muda a todo momento (VUCA) é exclusiva dos humanos. Pensar em soluções criativas para problemas complexos é tarefa que seguirá sendo exclusiva dos advogados. Quanto mais multidisciplinar e integrados aos diversos campos do conhecimento (não apenas do direito mas de negócios, economia, etc.) mais imprescindível o advogado será. 
  2. A empatia: algumas soluções jurídicas passam por um olhar empático à dor do outro ou ao problema da corporação que exige muito mais do que conhecimento técnico e legislativo, mas a adaptação da melhor solução jurídica para aquele caso concreto. A definição de uma estratégia jurídica visando, por exemplo, ceder para assegurar uma parceria de longo prazo passa longe de um mero exame de probabilidades e jurimetria, mas do entendimento do quanto o negócio ou a vida do cliente pode ser afetado. No judiciário a situação não é diferente: as decisões são proferidas por pessoas e um advogado precisará entender qual argumento tem mais impacto para formar a opinião de quem está do outro lado da mesa. A probabilidade não indica os elementos específicos do caso concreto. É preciso analisar o seu interlocutor individualmente. A mesma solução não vale para todo mundo e cabe ao advogado identificar qual tem maior eficácia. 
  3. Visão crítica, capacidade analítica e o senso comum: evidentemente que a inteligência artificial vai evoluir e se tornar cada vez mais precisa e menos suscetível a erros. Entregará dados, estatísticas e tendências (jurimetria) em poucos segundos. Mas existe um aspecto da visão crítica, da junção entre os elementos objetivos (a lei a jurisprudência) ao caso concreto que passa por uma análise do comportamento humano, do feeling que não tem máquina que o faça. Como um determinado consumidor reagirá a um recall? Qual será o impacto de uma decisão do negócio na produtividade dos empregados afetados? O exame de tais questões depende não apenas de dados objetivos, mas de análise sobre o comportamento humano e, portanto, exigem a presença humana na equação. 

Evidentemente que não podemos “dourar a pílula” e fechar os olhos para o fato de que a IA já causou uma revolução no mundo (e no direito, obviamente), reduzir o tempo de execução das tarefas alcançando patamares nunca antes imaginados de eficiência, assertividade e produtividade. Inevitavelmente as atividades repetitivas e operacionais do direito serão afetadas. 

Todavia, o aspecto humano das relações sociais sempre existirá e nessa equação a presença de um bom advogado e seu espírito crítico seguirão fazendo a diferença… resta a nós, mortais, nos adaptarmos e utilizarmos destas ferramentas para evoluirmos. 

1 Paola é Diretora Técnica do Chenut Oliveira Santiago responsável pelo departamento de inovação. 

 

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