Artigos - Postado em: 13/09/2021

Você sabe o que é “acqui-hiring”?

Por Yasmin Peron

Acqui-hiring foi o termo criado para definir um modelo de aquisição societária que tem como foco o aproveitamento de profissionais da empresa ou sociedade adquirida em um processo de M&A (“mergers and acquisitions” ou fusões e aquisições).

Em geral, as transações envolvendo a aquisição de empresas decorrem de uma estratégia de crescimento onde assumir as operações de uma organização já existente se demonstra mais benéfico do que a expansão por conta própria. Nesses casos, comumente, têm-se como objetivos principais a busca por uma maior eficiência concorrencial, economias tributárias, consolidação e expansão de negócio (“hit the ground running”), gerenciamento do custo de capital, aproveitamento de sinergias, alocação/gerenciamento de riscos, redução de barreiras à entrada aos mercados, reforço/consolidação de poder de mercado, diversificação de escopo, economia de escala e competitividade mercadológica.

Contudo, recentemente tem se observado uma nova motivação para a realização desse tipo transação, as chamadas “acqui-hirings”, neologismo criado a partir da junção dos termos ingleses “acquisition” e “hiring”, em português, respectivamente, “aquisição” e “contratação”. Nesse modelo, a aquisição de determinada empresa visa primordialmente a aquisição de talentos, ou seja, a contratação de funcionários experientes, treinados e capacitados para consecução de seus objetivos.

Essa tática de aquisição, tem sido muito observada principalmente no setor da tecnologia, tendo sido adotada por empresas como Facebook, Yahoo e Google que buscaram em startups novos talentos na área de programação, muitas vezes optando até por descontinuar o produto desenvolvido, mas tão somente absorvendo o capital intelectual dessas empresas, a partir da exploração das habilidades e conhecimento da equipe da empresa alvo da aquisição.

As principais vantagens desse modelo de transação consistem em encontrar o conjunto certo de profissionais, de maneira rápida o que confere uma melhora na eficiência operacional, trazendo uma grande economia de tempo e esforços necessários para recrutar e treinar novos talentos. 

Além disso, em alguns casos, essa modalidade de aquisição é uma ótima maneira de eliminar a concorrência para a empresa que está comprando a empresa menor, uma vez que além dos profissionais, essa aquisição também fornece acesso a um grupo de clientes da empresa adquirida que podem ser bastante estratégicos. 

Todavia, apesar de haver muitas vantagens advindas desse modelo de operação, é necessário que os objetivos de ambas as empresas estejam bem alinhados, pois uma eventual incompatibilidade entre seus interesses e as culturas institucionais podem ocasionar grandes impasses para ambas as organizações.

Contratar esses profissionais, várias vezes faz todo o sentido do ponto de vista estratégico e comercial, servindo a um grande propósito. No entanto, existe um elemento humano envolvido nesse tipo de estratégia que deve ser atentamente levado em conta. Apesar da economia no tempo de recrutamento e treinamento, é essencial que haja um esforço dos recursos humanos para integrar esses profissionais com o quadro de colaboradores já existente, a partir de estratégias e programas de ambientação, apresentação e adaptação à cultura da nova contratante.

Ademais, deve-se cuidar do corpo de colaboradores antigo, de forma que estes não se sintam desmotivados ou desvalorizados, conferindo um tratamento o mais igualitário possível, por meio de remunerações justas, bem como um desenvolvimento de plano de carreiras que seja compatível com ambos os grupos de contratados. 

Além disso, assim como em qualquer operação societária, além do fator integração de culturas, existem outros aspectos importantes que precisam ser observados, tais como: a estruturação do novo modelo de negócio e alinhamento de metas, as responsabilidades pós-fechamento da operação, eventuais impactos na administração das empresas, a verificação da existência de eventuais passivos junto a credores, observância de possíveis questões de cunho fiscais e, principalmente, trabalhista.

Assim, como em qualquer processo de M&A que envolve uma série de procedimentos e cuidados para que a negociação ocorra da forma esperada, tais como: plano de execução, valuation, negociação de condições precedentes e estudo da viabilidade jurídica, é muito importante ainda que seja realizada uma boa Due Diligence, por meio de uma análise completa e ampla da empresa a ser adquirida. Essa prática busca destrinchar questões comerciais, jurídicas, financeiras, operacionais e fiscais a fim de identificar oportunidades, avaliar riscos relacionados à negociação, bem como ajustar o preço justo a ser pago na operação.

Dessa forma, é altamente recomendável que o processo de Due Diligence seja conduzido por profissionais qualificados, envolvendo especialistas de diversas áreas, uma vez que a averiguação da empresa passa pelas mais diversas áreas, tais como, financeira, contábil, trabalhista, previdenciária, tributária, societária, contratual, dentre outras. As análises devem ser realizadas por meio da verificação e cruzamento de informações, dados e documentos que são disponibilizados pela empresa alvo, por isso, é indispensável que o time de profissionais alocados no projeto tenha muita experiência nesse tipo de trabalho a fim de identificar, eliminar ou reduzir os problemas envolvidos em uma possível aquisição ou expansão, além de entregar um mapeamento preciso sobre eventuais riscos e oportunidades com a finalidade de desenvolver um crescimento sustentável da organização.

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