Artigos - Postado em: 10/09/2024

A Importância da Governança Corporativa em Empresas Familiares

Por Antônia Bethonico Guerra Simoni

A governança corporativa desempenha um papel fundamental na estruturação e no sucesso das empresas, e sua importância é crescente em sociedades familiares. Essas organizações, que muitas vezes passam por várias gerações, enfrentam desafios únicos que podem impactar diretamente sua longevidade e eficiência. Implementar práticas sólidas de governança corporativa pode ser a mola propulsora do crescimento da empresa, contribuindo substancialmente para sua adaptação ao mercado e às dinâmicas internas.

Governança corporativa refere-se ao conjunto de práticas, regras e processos pelos quais uma empresa é dirigida e controlada. O objetivo é garantir que a empresa atue de maneira ética, transparente e alinhada aos interesses de todos os seus stakeholders — o que inclui sócios ou acionistas (que aqui chamaremos, de forma indistinta, de “sócios”), funcionários, clientes, fornecedores e a sociedade em geral.

Nas empresas familiares, a governança corporativa vai além de proteger os interesses dos sócios e administradores considerados de forma individualizada, buscando também equilibrar as relações entre os membros da família que estão diretamente envolvidos na gestão da empresa e aqueles que, embora não participem ativamente, possuem interesses legítimos na organização. É o que acontece de forma frequente em sociedades em que parte da família atua na administração da empresa, enquanto outros membros são acionistas ou sócios, mas não participam da gestão social.

É importante notar que a governança corporativa pode ser implementada tanto em sociedades por ações quanto em sociedades de responsabilidade limitada, e independentemente de se tratar de organização de maior ou menor porte. Em todos os casos, a estruturação deve ser feita de acordo com a natureza da empresa, suas necessidades específicas e os objetivos de longo prazo – mais uma vez considerando os interesses do mercado, e dos próprios. Antes de iniciar a implementação de um modelo de governança, é essencial realizar um estudo detalhado sobre os interesses dos stakeholders, com foco especial nos sócios. É crucial entender as expectativas de cada grupo envolvido, identificar possíveis conflitos de interesse e criar mecanismos que permitam uma gestão eficiente e transparente. Nas sociedades por ações, a governança corporativa frequentemente envolve a criação de um conselho de administração e comitês específicos (como os de auditoria, riscos e compliance) para supervisionar a gestão executiva. Em sociedades limitadas, ainda que a legislação não exija a criação de um conselho de administração, a prática pode ser adotada como uma forma de fortalecer a governança, especialmente em empresas de maior porte ou complexidade.

Uma governança corporativa robusta e concisa tem impacto direto e positivo nas atividades da empresa familiar. A implementação de boas práticas de governança melhora significativamente a tomada de decisões na empresa, que se torna mais estruturada e fundamentada. A criação de conselhos e comitês permite que as decisões sejam debatidas por um grupo diversificado, que considera diferentes perspectivas antes de chegar a um consenso. Além disso, a adoção de práticas de governança aumenta a transparência nas operações da empresa, o que, por sua vez, fortalece a confiança entre os membros da família, acionistas e demais stakeholders. A transparência é um dos pilares para a construção de um ambiente empresarial saudável e cooperativo.

Empresas familiares estão particularmente sujeitas a conflitos entre os membros da família, que podem surgir devido a interesses divergentes ou questões de sucessão. Uma estrutura de governança bem definida ajuda a mitigar esses conflitos ao estabelecer regras claras de governança, definir responsabilidades e criar mecanismos de resolução de disputas. Esse ambiente regulado e organizado contribui para a perenidade da empresa, garantindo que as práticas de gestão estejam alinhadas com os objetivos de longo prazo da organização, o que se torna particularmente importante para que empresas familiares possibilitem a continuidade da empresa para as gerações futuras.

Além disso, empresas familiares que adotam boas práticas de governança corporativa têm maior facilidade em atrair investidores externos, pelo que muitas vezes a governança é implementada visando a chamada “profissionalização” da empresa. A existência de uma estrutura sólida de governança é vista como um indicativo de estabilidade e confiabilidade, fatores que são altamente valorizados no mercado. Investidores tendem a buscar empresas que demonstram um compromisso com a transparência e a responsabilidade, e a governança corporativa fornece a estrutura necessária para isso.

A governança corporativa é, portanto, um elemento essencial para o sucesso das empresas familiares. Sua implementação deve ser cuidadosamente planejada, levando em consideração os interesses de todos os stakeholders e adaptando-se à estrutura jurídica da empresa, seja ela uma sociedade por ações ou uma sociedade de responsabilidade limitada. Uma governança bem estruturada promove a transparência, melhora a tomada de decisões, previne conflitos e assegura a sustentabilidade da empresa no longo prazo, garantindo que a organização não apenas sobreviva, mas prospere ao longo das gerações. Para as empresas familiares que desejam se destacar e garantir seu lugar no mercado, investir em governança corporativa é uma estratégia indispensável.


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