Compliance também mora nas redes sociais — agora com casos reais

Vivemos em um mundo interconectado e de visibilidade extrema: tiramos fotos e postamos em tempo real, comentamos em lives, reagimos a debates, compartilhamos posts… e muitas vezes esquecemos que cada atitude deixa um rastro digital com alcance – e consequências – imensurável.

E é justamente aí que mora o perigo: na falta de controle ou consciência sobre como comportamentos pessoais – inclusive virtuais – podem repercutir nas empresas onde trabalhamos.

Nos últimos anos, fomos bombardeados na internet com vários exemplos de como um simples deslize pode virar escândalo e atrair crises comerciais e riscos reputacionais para as organizações:

✔️ O comentário infeliz de um CEO sobre produtos nacionais que gerou boicote de fornecedores.

✔️ A fala de outro executivo sobre a soja brasileira que abalou a credibilidade da empresa.

✔️ Casos de conduta pessoal, descobertos pelas redes sociais, que levaram à demissão imediata de lideranças.

✔️ Até ser visto em um show ou evento pode gerar ruído quando o contexto não é bem compreendido.

E, mais recentemente, a repercussão em torno da morte de Kirk, que gerou um turbilhão de comentários, interpretações e pressões em redes sociais, culminando até em demissões no Brasil e nos EUA, o que comprova que fatos associados à vida pessoal ou manifestações públicas podem atravessar as fronteiras e impactar diretamente a esfera profissional.

Todos esses episódios são um lembrete de como a vida pessoal ou simples comentários no mundo digital podem afetar a imagem institucional — e trazer consequências reais não apenas para o CPF envolvido, mas também para o CNPJ.

E o que esses casos – e tantos outros similares – nos ensinam? Que líderes devem ter extremo cuidado com a comunicação pública e com suas condutas pessoais, pois um relacionamento impróprio ou comentário mal calculado pode gerar crises comerciais e reputacionais.

Por isso, o Compliance Digital torna-se cada vez mais vital: as organizações precisam investir em políticas internas rígidas e protocolos de aprovação de comunicação externa, bem como treinar o time – especialmente os líderes – constantemente.

Especialmente em um mundo cada vez mais digital e integrado, algumas lições precisam ser apredidas:

  • Momento zero não existe mais: uma imagem, um post, um comentário — tudo pode ser interpretado, internalizado e escalar em minutos.
  • Marca pessoal = marca institucional: líderes, especialmente em redes sociais, são porta-vozes – ainda que involuntários – da empresa.
  • Códigos de Conduta precisam conversar com o digital: não basta ter normas genéricas; elas precisam contemplar uso de redes sociais, eventos e limites claros sobre relacionamentos e condutas visíveis.
  • Treinamento é a base do reflexo: o que parece “óbvio” precisa ser dito, ressaltado e treinado repetidamente, especialmente para cargos de alta visibilidade.

 

ㅤㅤNa prática, percebemos que quase nunca há má-fé nesses casos. O que falta é comunicação clara, contextualizada e frequente. Infelizmente, o que parece óbvio — como comportamento em rede social e cuidado com relações amorosas no ambiente corporativo — precisa ser verbalizado, ilustrado e treinado, sempre.

Além disso, cargos sensíveis — executivos, lideranças, representantes — exigem atenção especial. Eles são a “face diária” da empresa e um descuido, por menor que seja, pode virar escândalo ou crise reputacional.

Nesse cenário, o Compliance precisa assumir seu protagonismo e atuar de forma estratégica e proativa: ao invés de presumir que os gestores “já sabem”, investir em educação contínua e realista, com exemplos atuais e clareza estratégica de como agir. Só assim será possível evitar crises comerciais ou reputacionais antes que elas explodam nas redes sociais e na mídia.

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