Autor: Carolina Alves Chagas Pianetti
Coautor: Fernanda Assis Souza
Quem nunca participou de uma conversa rápida no café, de um comentário no corredor ou de uma mensagem informal em grupos de whatsapp corporativos?
A comunicação informal, a famosa “fofoca”, faz parte do cotidiano de qualquer empresa. Mas, o que muitas vezes parece apenas um desabafo ou um momento de descontração pode tornar-se um fator de risco relevante sob a ótica do compliance.
A questão não está em demonizar a “fofoca” ou, de forma equivocada, tentar bani-la completamente, mas sim em compreender seus impactos no ambiente de trabalho e na saúde mental dos colaboradores.
Frequentemente associada a aspectos negativos, a “fofoca” pode ter efeitos positivos quando ocorre com respeito, empatia e bom senso.
Momentos de interação nas empresas, como a hora do cafezinho e as conversas de corredores, ajudam a aliviar tensões e atuam como uma verdadeira válvula de escape para o estresse do dia a dia, afinal de constas muitas vezes passamos mais tempo com colegas de trabalho do que com nossos amigos e familiares.
Esses momentos de descontração também fortalecem vínculos interpessoais, contribuindo para o senso de pertencimento e o fortalecimento das redes de apoio nas equipes.
Além disso, a “fofoca” pode funcionar como uma importante rede de percepção sobre o clima da empresa, sinalizando movimentos internos ou oportunidades ainda não formalizadas. Quando bem conduzida, pode inclusive dar visibilidade a questões sensíveis, inspirar soluções colaborativas e reforçar uma cultura corporativa mais humana, transparente e integrada.
O problema começa, no entanto, quando essas “fofocas” ultrapassam o limite da descontração e adentram o campo do desrespeito. Uma simples brincadeira pode se tornar exclusão. Um comentário aparentemente inofensivo pode se transformar em assédio velado. A frase “só estou te contando” pode ser o início da propagação de um boato desrespeitoso.
A “fofoca” mal-intencionada ou irresponsável pode causar prejuízos significativos em diversos níveis. No plano individual, pode afetar a autoestima, aumentar o estresse, provocar o isolamento do colaborador e comprometer sua imagem profissional. No âmbito das equipes, tende a corroer a confiança, estimular rivalidades, reduzir a produtividade e gerar um clima corporativo tóxico e desagregador.
E, no nível institucional, os danos incluem perda de talentos, aumento do turnover, fragilização da cultura interna, impacto na reputação da empresa e redução da capacidade de inovação e cooperação entre áreas.
Diante desse cenário, o papel do compliance, em conjunto com lideranças e área de gestão de pessoas, é fundamental. A missão não é eliminar a “fofoca”, o que seria impossível e contraproducente (sensação de repressão), mas garantir que ela ocorra dentro de parâmetros éticos e respeitosos.
Um ambiente corporativo saudável não é aquele em que ninguém conversa ou brinca, mas aquele em que todos sabem o que, como e quando comunicar. É essencial que os colaboradores reconheçam os limites entre uma conversa descontraída e uma conduta antiética ou desrespeitosa, saibam como agir diante de situações inadequadas e estejam cientes dos mecanismos institucionais disponíveis para reportar comportamentos impróprios, com segurança e sem temor de retaliações.
Isso se faz por meio da conscientização, da promoção de uma cultura de integridade e da oferta de canais seguros de escuta e denúncia.
A conscientização deve ocorrer de forma contínua, por meio de treinamentos, campanhas internas, rodas de conversa e materiais educativos que esclareçam o que caracteriza uma conduta ética e quais são os impactos de comportamentos inadequados, como “fofocas” mal-intencionadas ou comentários ofensivos. Esses conteúdos devem ser acessíveis e adaptados à realidade da empresa, envolvendo todos os níveis da hierarquia.
Já a promoção da integridade exige o exemplo das lideranças, que devem incorporar valores éticos nas suas atitudes diárias e incentivar o respeito em todas as relações.
E os canais de escuta e denúncia precisam ser acessíveis, confidenciais e livres de retaliação, com garantia de que todas as manifestações serão tratadas com seriedade, imparcialidade e acolhimento.
Cabe à empresa, portanto, por meio de uma atuação estratégica e integrada do compliance, da liderança e da área de gestão de pessoas, cultivar uma cultura de diálogo respeitoso, confiança e responsabilidade. Somente com esse equilíbrio será possível transformar a comunicação informal em aliada da integridade corporativa, prevenindo danos e promovendo relações mais saudáveis e produtivas no ambiente de trabalho.
O CHENUT alcançou por onze vezes o 1° lugar como o escritório mais admirado de Minas Gerais pela publicação Análise Editorial ADVOCACIA. Quer conhecer mais sobre a nossa Equipe e nossos serviços? Entre em contato com novosnegocios@chenut.online e agende uma conversa.